
Introdução
Disponível no mercado farmacêutico desde o início dos anos 2000, a tadalafila revolucionou o tratamento da disfunção erétil ao se tornar o primeiro medicamento oral capaz de manter seu efeito por até 36 horas. Essa característica, que lhe rendeu o apelido de "pílula do fim de semana", transformou não apenas o tratamento médico, mas também a qualidade de vida de milhões de homens em todo o mundo.
Nos últimos anos, no entanto, o medicamento ganhou notoriedade além de suas indicações terapêuticas. O uso recreativo, especialmente entre jovens sem diagnóstico de disfunção erétil, tem preocupado profissionais de saúde. Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), a procura pelo remédio aumentou significativamente, impulsionada por tendências nas redes sociais e pela busca de melhor desempenho físico ou sexual.
Esta reportagem apresenta informações detalhadas sobre a tadalafila, desde seu mecanismo de ação e indicações terapêuticas até os riscos associados ao uso indiscriminado, com o objetivo de esclarecer dúvidas e promover o uso consciente desse importante medicamento.
O que é a Tadalafila
A tadalafila é um fármaco classificado como inibidor seletivo e reversível da enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE5). Comercializada sob a marca Cialis® e em versões genéricas, está disponível em comprimidos revestidos de 5 mg e 20 mg.
Diferentemente de outros medicamentos da mesma classe, como o sildenafil (Viagra®), a tadalafila se destaca pela sua longa duração de ação, que pode chegar a 36 horas, enquanto outros similares têm efeito por períodos significativamente menores, geralmente de 4 a 6 horas.
Além disso, a tadalafila apresenta um início de ação relativamente rápido, com efeitos perceptíveis a partir de 30 minutos após a administração, embora o tempo ideal para sua ação completa seja entre 1 e 2 horas após a ingestão.
Mecanismo de ação

Para compreender como a tadalafila funciona, é necessário entender primeiro o processo fisiológico da ereção peniana. A ereção é um processo neurovascular que se inicia por meio do estímulo sexual, promovendo a liberação do óxido nítrico (NO) nas artérias dos corpos cavernosos do pênis.
Essa liberação eleva os níveis intracelulares de monofosfato de guanosina cíclico (GMPc), provocando o relaxamento da musculatura lisa vascular dos corpos cavernosos. Esse relaxamento favorece o aumento do fluxo sanguíneo para o pênis, resultando na ereção.
Para que a ereção não se prolongue indefinidamente, o organismo possui um mecanismo natural de regulação: a enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE5) degrada o GMPc, reduzindo seus níveis e permitindo que o pênis volte ao estado flácido.
A tadalafila atua inibindo a ação dessa enzima, o que mantém os níveis de GMPc elevados por mais tempo, prolongando o relaxamento muscular e vascular necessário para a ereção. É importante ressaltar que o medicamento não causa ereção espontânea – é necessário que haja estímulo sexual para que o processo se inicie.
No caso da hiperplasia prostática benigna, a tadalafila também promove o relaxamento da musculatura da próstata, da bexiga e dos vasos sanguíneos locais, reduzindo o estreitamento da uretra e aliviando os sintomas urinários associados ao aumento da glândula.
Indicações terapêuticas
A tadalafila é aprovada para o tratamento de diversas condições médicas:
- Disfunção erétil (DE): Principal indicação, ajuda homens com dificuldade de obtenção e/ou manutenção da ereção peniana.
- Hiperplasia prostática benigna (HPB): Especificamente na dosagem de 5 mg, é indicada para o tratamento dos sinais e sintomas da HPB, como hesitação para urinar, jato fraco, gotejamento, esvaziamento incompleto da bexiga, micção dolorosa e urgência urinária.
- Hipertensão arterial pulmonar (HAP): Embora menos conhecida, esta é uma indicação importante para casos desta condição rara e grave, onde o medicamento ajuda a relaxar os vasos sanguíneos pulmonares, reduzindo a pressão arterial nessa região.
É fundamental destacar que, em todas essas indicações, o uso deve ser feito exclusivamente sob prescrição e acompanhamento médico, após avaliação clínica adequada e diagnóstico preciso.
Formas de apresentação e posologia
A tadalafila está disponível em comprimidos revestidos de 5 mg e 20 mg. A posologia varia conforme a indicação terapêutica e as características individuais do paciente:
- Para disfunção erétil: Pode ser administrada em dois esquemas diferentes:
- Uso diário: 5 mg uma vez ao dia, aproximadamente no mesmo horário.
- Uso sob demanda: 20 mg tomado antes da atividade sexual, com efeito que pode durar até 36 horas.
- Para hiperplasia prostática benigna: 5 mg uma vez ao dia.
- Para hipertensão arterial pulmonar: A dosagem é determinada pelo médico especialista, geralmente iniciando com doses menores e ajustando conforme a resposta do paciente.
O medicamento deve ser preferencialmente tomado com o estômago vazio, embora possa ser administrado com alimentos. No caso do uso sob demanda, recomenda-se a ingestão pelo menos 30 minutos antes da atividade sexual.
Comparação com outros medicamentos similares

A tadalafila pertence à classe dos inibidores da PDE5, que inclui outros medicamentos como sildenafil (Viagra®), vardenafil (Levitra®) e avanafil (Spedra®). Embora todos atuem pelo mesmo mecanismo básico, existem diferenças importantes entre eles, principalmente quanto ao tempo de início de ação e duração do efeito.
A principal vantagem da tadalafila é sua longa duração de ação (até 36 horas), o que proporciona maior espontaneidade na vida sexual, sem necessidade de programação rígida. Isso a diferencia significativamente do sildenafil e vardenafil, cujos efeitos duram aproximadamente 4-5 horas, e do avanafil, com duração de até 6 horas.
Outra vantagem é a possibilidade de uso diário em doses menores, o que mantém níveis constantes do medicamento no organismo e pode proporcionar maior naturalidade nas relações sexuais.
Efeitos colaterais
Como todo medicamento, a tadalafila pode causar efeitos colaterais, que variam em intensidade e frequência entre os pacientes. Os efeitos mais comuns incluem:
- Dor de cabeça
- Indigestão ou azia
- Náusea
- Diarreia
- Dor de estômago, nas costas, músculos, pernas e braços
- Tosse
- Vermelhidão (rubor) e congestão nasal
Embora menos frequentes, alguns efeitos adversos mais graves podem ocorrer e exigem atenção médica imediata:
- Perda, redução ou mudança repentina da visão
- Visão turva ou alterações na distinção de cores
- Diminuição repentina ou perda da audição, acompanhada ou não de zumbido e vertigem
- Ereção prolongada (priapismo) - ereções que duram mais de 4 horas
- Tontura severa ou desmaio
- Dor no peito, especialmente se estender para o braço, pescoço ou mandíbula
- Reações alérgicas como urticária, irritação na pele, dificuldade para respirar ou engolir
- Inchaço de face, garganta, língua, lábios, olhos, mãos, pés, tornozelos ou pernas
O priapismo merece atenção especial, pois pode resultar em lesão permanente do tecido peniano se não for tratado imediatamente. Pacientes que apresentem ereções com duração de 4 horas ou mais devem procurar assistência médica de emergência.
Contraindicações
A tadalafila é contraindicada em diversas situações, sendo as principais:
- Alergia à tadalafila ou a qualquer componente da fórmula
- Uso concomitante de nitratos (medicamentos para angina ou dor no peito)
- Uso de drogas recreativas conhecidas como "poppers" (nitrito de amila, nitrito de butila)
- Condições cardíacas graves que contraindiquem a atividade sexual
- Infarto do miocárdio recente (últimos 90 dias)
- Angina instável ou angina durante a relação sexual
- Insuficiência cardíaca classe 2 ou maior nos últimos 6 meses
- Acidente vascular cerebral nos últimos 6 meses
- Hipotensão (pressão arterial baixa) ou hipertensão não controlada
- Insuficiência hepática grave
Além disso, o medicamento deve ser usado com cautela em pacientes com:
- Deformações anatômicas do pênis (como doença de Peyronie)
- Condições que predisponham ao priapismo (como anemia falciforme, mieloma múltiplo ou leucemia)
- Problemas de coagulação ou úlcera péptica ativa
- Insuficiência renal grave
- Retinite pigmentosa (doença ocular hereditária rara)
Uso indiscriminado e riscos
Nos últimos anos, tem-se observado um aumento preocupante no uso indiscriminado da tadalafila, especialmente entre jovens sem diagnóstico de disfunção erétil. Esse fenômeno tem sido impulsionado por tendências nas redes sociais e pela busca de melhor desempenho físico ou sexual.
Muitos jovens utilizam o medicamento como "pré-treino" para supostamente potencializar os exercícios físicos na academia, enquanto outros buscam melhorar a performance sexual, mesmo sem apresentar problemas de ereção. Para ambos os usos, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) alerta que há pouca ou nenhuma evidência científica de benefícios.
O uso recreativo da tadalafila apresenta diversos riscos:
- Dependência psicológica: O uso frequente sem necessidade médica pode levar a uma dependência psicológica, onde o homem passa a acreditar que só conseguirá ter ereções satisfatórias com o uso do medicamento.
- Mascaramento de problemas subjacentes: A disfunção erétil pode ser sintoma de condições médicas graves, como diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares. O uso indiscriminado pode mascarar esses problemas, retardando diagnósticos importantes.
- Interações medicamentosas perigosas: Jovens que usam o medicamento recreativamente podem não estar cientes das interações perigosas com outras substâncias, como álcool, drogas recreativas ou outros medicamentos.
- Efeitos colaterais não monitorados: Sem acompanhamento médico, efeitos colaterais podem passar despercebidos ou ser mal interpretados, levando a complicações.
- Dosagem inadequada: O uso sem orientação profissional frequentemente leva à administração de doses inadequadas, aumentando o risco de efeitos adversos.
Orientações importantes
Para o uso seguro e eficaz da tadalafila, algumas orientações são fundamentais:
- Consulta médica obrigatória: O medicamento só deve ser utilizado após avaliação médica completa e com prescrição adequada.
- Seguir a posologia recomendada: Respeitar rigorosamente a dose e a frequência indicadas pelo médico.
- Informar sobre outros medicamentos: Comunicar ao médico todos os medicamentos em uso, incluindo suplementos e fitoterápicos.
- Monitoramento regular: Realizar consultas periódicas para avaliar a eficácia do tratamento e possíveis efeitos colaterais.
- Armazenamento adequado: Manter o medicamento em temperatura ambiente (15-30°C), protegido da luz, umidade e fora do alcance de crianças.
- Não compartilhar: Nunca compartilhar o medicamento com outras pessoas, mesmo que apresentem sintomas semelhantes.
- Atenção aos sinais de alerta: Procurar atendimento médico imediato em caso de efeitos colaterais graves, como os mencionados anteriormente.
Considerações finais
A tadalafila representa um avanço significativo no tratamento da disfunção erétil, hiperplasia prostática benigna e hipertensão arterial pulmonar. Quando utilizada corretamente, sob orientação médica, pode proporcionar melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes.
No entanto, seu uso indiscriminado, especialmente para fins recreativos ou de aprimoramento de performance, apresenta riscos consideráveis à saúde. A conscientização sobre o uso racional desse medicamento é fundamental para garantir seus benefícios e minimizar potenciais danos.
É importante lembrar que a disfunção erétil pode ser sintoma de condições médicas subjacentes que requerem diagnóstico e tratamento adequados. Portanto, ao invés de automedicação, a recomendação é sempre buscar avaliação médica para identificar as causas do problema e determinar o tratamento mais apropriado.
Por fim, vale ressaltar que a saúde sexual é parte importante da saúde geral e do bem-estar, e deve ser abordada com seriedade, conhecimento e acompanhamento profissional adequado.
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